O luto é uma passagem pelo desfiladeiro

Desfiladeiro é uma passagem apertada entre cadeia de montanhas. Muitas vezes tão apertada a ponto de dificultar a passagem. Estamos fazendo uma analogia com o luto, uma dor que atemoriza, que atinge a alma, e que parece impensável de ter fim.

O sujeito chega na clínica com uma ideia de terapia anestésica e, se possível, instantânea para encerrar o sofrimento. Deseja reaver o perdido.  Dada a impossibilidade, anda com o pensamento circular, enredado num conjunto complexo que evoca afetos como amor, culpa, raiva, entre outros. Conforme as crenças, não somente religiosa, mas num sentido mais amplo, o luto fere mais profundamente durante o caminhar.

Ao longo do tempo, o sujeito descobre que o tratamento possibilita realizar uma travessia, a partir dos conceitos de reparação e gratidão. Reparar o que foi produzido pelo imaginário e se sentir gratificado pelo tempo de convívio, afastando-se da culpa, sentindo-se vivo para prosseguir. Não se trata de reconhecer pela razão, mas algo mais profundo.

Cada sujeito terá seu processo para atravessar o luto, podendo ser mais doloroso para uns do que para outros, com os insights, as condições de autoconhecimento e encontrar novas formas de sentir o prazer em viver. Por fim, o luto transforma-se na possibilidade de fortalecer a vida de quem fica, em homenagem a quem partiu.

Dr. João Palma Filho
Psicólogo – CRP 146.528
Matéria publicada no jornal Regional News, edição n°1595

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