“Que é necessário sair da ilha para ver a ilha, que não nos vemos se não nos saímos de nós, se não saímos de nós próprios” (O conto da Ilha Desconhecida, José Saramago).
As ameaças num relacionamento abusivo suscitam o medo de se ver em abandono, as dificuldades familiares a serem enfrentadas e, inclusive, as atribulações financeiras. Estamos falando de relações abusivas no lar, no trabalho, no ambiente de estudos, entre outros. Não raras vezes, escutamos na clínica, sobre o arrependimento por haver se submetido a um relacionamento abusivo. É como se a pessoa tivesse saído da ilha, tornando-se incompreensível a submissão desorganizadora, sente culpa por ter idealizado a mudança do outro, principalmente durante os momentos de trégua.
Uma idealização manipulada habilmente pelo abusador, mudança que não ocorreu. Em alguns casos, a pessoa que sofreu abusos sente-se fragmentada, aos cacos – usam essa expressão -, com dificuldades para tomar decisões sobre a própria vida e desejo de isolamento social. A raiva e a
culpa são temas para inúmeras sessões. Sair da ilha….quão difícil é! Todavia, quando sai, em busca de si pelos mares da vida, permanecem os registros do sofrimento, entretanto, surge o reconhecimento da força renovadora e entusiasmo pela vida.
Dr. João Palma Filho
Psicólogo – CRP 146.528
Matéria publicada no jornal Regional News, ed. 1568