Na clínica recebemos sujeitos que escolheram viver para o outro e descobrem que o tempo precioso para si mesmos, não deveria ter sido desprezado. Descortinam suas vidas na análise, observam o quanto deixaram de viver e parece que assistem a um filme, cujo roteiro merece reprovação. Sentem-se, geralmente, culpados por isso.
Prometem a si mesmos nunca mais deixar que certos limites sejam ultrapassados no relacionamento. Reagem às suas lembranças, com muita emoção e tristeza, por sentirem-se manipulados pelo outro. Nessas situações, há de se destacar sobre a necessidade de retomar a vida, cujo sentido deve ser apoiado em si mesmo. Isso significa que a vida deve ter um sentido especial para o sujeito, de maneira a
desenvolver o amor-próprio. Nos casos de união com um sentido de amor, compartilhar o caminho da vida respeitando os limites do outro e sabendo estabelecer limites para esse outro respeitar.
Todavia, não há como mudar e construir futuros relacionamentos sem abusos, sem se ver implicado nas questões que engendraram aquela relação abusiva. Buscando pelo autoconhecimento, durante a análise, percebe que não foi o acaso que resultou na escolha do outro, mas algo tem a ver consigo mesmo. Somente após um percurso analítico, torna-se possível compreender essas repetições e libertar-se.
Dr. João Palma Filho
Psicólogo – CRP 146.528
Matéria publicada no jornal Regional News, edição n°1594