Tecnologias emergentes no diagnóstico precoce do câncer de mama: o que há de novo no Brasil?

A detecção precoce do câncer de mama continua sendo a principal aliada na redução da mortalidade e dos custos do tratamento. Nos últimos anos, uma nova fronteira tecnológica tem se desenhado no país: inteligência artificial (IA), biossensores e testes rápidos começam a transformar o modo como o diagnóstico é feito — e revelam também os desafios de acesso e desigualdade que ainda persistem no sistema de saúde brasileiro.

Nos laboratórios da Fiocruz Paraná, pesquisadores desenvolveram um kit rápido para diagnóstico precoce do câncer de mama. O teste, em fase experimental, promete identificar biomarcadores da doença em até 30 minutos, com custo reduzido e potencial de aplicação em unidades básicas de saúde.

Outra frente em ascensão é a biópsia líquida, técnica capaz de detectar fragmentos de DNA tumoral no sangue. A Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e outras instituições brasileiras têm investido em pesquisas que buscam identificar o câncer antes mesmo que ele apareça em exames de imagem. Embora ainda em fase de testes, a expectativa é que, nos próximos anos, esses métodos complementem — e em alguns casos substituam — as mamografias convencionais.

Já nos grandes centros de diagnóstico, a inteligência artificial começa a ganhar espaço. Na Beneficência Portuguesa de São Paulo, sistemas de IA são usados para analisar mamografias com alto índice de precisão, ajudando radiologistas a identificar lesões suspeitas de forma mais rápida e confiável. Segundo a Sociedade Brasileira de Patologia, a tecnologia pode aumentar em até 22% a precisão do diagnóstico. No entanto, especialistas alertam para o risco de viés nos algoritmos, já que a maioria dos bancos de dados usados para treinar esses sistemas é composta por imagens de mulheres de regiões metropolitanas, o que pode reduzir a eficácia em populações periféricas ou rurais.

Apesar dos avanços, a desigualdade de acesso ainda é o principal obstáculo. Dados do Instituto Nacional de Câncer (INCA) revelam que 25% das mulheres acima dos 40 anos no Brasil nunca realizaram uma mamografia. No Norte e Nordeste, a oferta de exames e biópsias é até quatro vezes menor que nas regiões Sudeste e Sul.

O Ministério da Saúde anunciou em outubro um investimento de R$ 100 milhões em pesquisas voltadas à saúde da mulher, terapias avançadas e diagnóstico oncológico, com foco em acelerar a incorporação de novas tecnologias no SUS. Mesmo assim, especialistas alertam que a transição entre a pesquisa de laboratório e a aplicação em larga escala é demorada e depende de regulação da Anvisa, financiamento contínuo e treinamento de profissionais.

Outro desafio é o custo de implementação. Levar IA e biossensores a milhares de unidades básicas de saúde exige infraestrutura digital, internet estável, técnicos capacitados e manutenção constante. Sem isso, o risco é que as inovações se concentrem em grandes centros urbanos e aprofundem as desigualdades regionais.

Nos próximos cinco a dez anos, a tendência é que o diagnóstico do câncer de mama se torne cada vez mais personalizado e descentralizado. A integração entre IA, exames de sangue e telemedicina pode permitir que uma mulher em uma cidade do interior tenha seu exame analisado em tempo real por especialistas em outras regiões. Mas o futuro só será realmente transformador se vier acompanhado de políticas públicas que priorizem o acesso equitativo e a sustentabilidade do sistema, o que ainda falta muito para chegar ao mínimo.

Inovação sem equidade é apenas tecnologia de vitrine. O verdadeiro avanço acontecerá quando a inteligência artificial e os kits rápidos estiverem disponíveis não apenas nos grandes hospitais, mas também nas pequenas UBSs que atendem as mulheres das periferias e do interior — onde o diagnóstico precoce pode fazer toda a diferença para a vida.

Tamires Santana

Assessora de Comunicação HEFC

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